Por Lucian Brum - fotógrafo
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As pessoas que estão vivendo um momento de fragilidade não supõem que uma fotografia pode ajudá-las. Durante as "Enchentes de Maio", quando estive pela primeira vez nas áreas alagadas de Pelotas, as pessoas seguiam salvando seus animais e retirando móveis de casa. Ouvindo o relato dos moradores, fui me envolvendo com a situação, pois acredito que a fotografia é fundamental para entendermos os fenômenos sociais.

Uma linguagem com potencial de causar impacto instantâneo, a fotografia consegue transmitir em síntese um episódio amplo. Para isso, o fotógrafo precisa estar atento ao contexto e ao sentimento humano. É com essa imagem - que potencializa a dimensão dos acontecimentos, provoca o debate social e colabora para a reflexão das decisões - que o trabalho profissional dos fotógrafos contribui.
Em editorial no dia 21/05/2024, o DP apresentou o contraste entre o acesso a notícias internacionais e a cobertura jornalística local. No meio digital, por exemplo, é mais rápido saber o que está acontecendo na China do que na Colônia Z-3. No entanto, com os olhos do mundo voltados à crise climática no RS, a fotografia comunicou com precisão os dramas e os desafios da população gaúcha.
Fotógrafos trabalharam pendurados em helicópteros, balançando-se sobre barcos e, necessariamente, andando dentro d'água. Logo, a tragédia ganhou rostos. Retratos do cenário caótico do RS viraram manchete global. Dessa forma, a fotografia ajudou a conscientizar e sensibilizou as pessoas a se envolverem em ações humanitárias.

A população gaúcha entendeu a força da natureza. Ao longo dos anos, os jornais publicaram fotografias da circulação de barcos no centro de Porto Alegre durante a enchente de maio de 1941. As pessoas, no entanto, não acreditavam que isso viria acontecer novamente. E, submetidas às ações e omissões políticas, surpreendidas por esse evento climático sem precedentes, não foi possível se defenderem das águas.

Ao olharmos uma fotografia, despertamos o sentimento vivido naquele momento. As "Enchentes de Maio" ficarão na memória dos gaúchos. No futuro, ao vermos essas imagens nos jornais, possamos estar mais maduros quanto a imprevisibilidade da natureza.